Sentada atrás do balcão da recepção, fixo as letras gordas: "SOGOBÓ - Máscaras e Marionetas do Mali". Desvio o meu olhar para a direita e deparo-me com a entrada do Museu. O jardim bem cuidado, as folhas pouco movimentadas pela brisa quente e o visitante invisível e imaginário que eu faço entrar com o meu olhar.
Agora não se ouve nada... Só o barulho do ar condicionado e o eco de vozes perdidas no bar ou quisá, nos corredores do museu. Fixo a parede com o olhar durante uns minutos e começo a ouvir um som familiar. Demasiado familiar. É uma voz feminina que aquece as cordas vocais com vocalizes em escala ascendente. De repente já não estou no Museu. Em vez de arbustos verdes, vejo sobreiros através das janelas rectangulares made by Siza Vieira. Estou sentada nos canos vermelhos a partilhar o espaço com a dread. Ouvimos as vozes que ecoam pelo U gigante e que cantam "Para toda a Estefanilha um Feliz Nataaaal". Dirijo-me ao Átrio onde me cruzo com o Cagão de Pegões, com a Eva Bisonte, com a Bruna Borbulhenta, com a Vanda que chora com um ramo de flores na mão, com o Hector e o Dizzi que fazem palhaçadas atrás do segurança, com dois mimos que divertem com quem se cruzam, com a Margarida da Graça e o seu olhar aluado, com a Fernanda que carrega tripés, com o Francisco que fuma atrás da porta, com a Silvie que canta o hino da ESE com uma lágrima no canto do olho, com a Tuna Sadina que passa com as pandeiretas furadas e riscadas...
O buraco no tecto reflecte a luz do Sol no chão branco na posição ideal e perfeita, cujo reflexo só é possível visionar uma vez por ano - no centro do Átrio.
Viro a esquina das escadas brancas para o bar e bato com a testa em folhas A4 penduradas por fio de nylon que sugerem títulos sarcásticos e reflexivos... todos sabem que foi o Olho de Lince. Já no bar encontram-se todos: a Tribo, o Canu, o Sr. Rui, os afilhados, o grupo da suecada, os cáras do brasiu e o pessoal de costume [ComSoc de todos os anos, alguns ESTianos e histéricas do PRI a discutirem trabalhos e notas]. O barulho das gargalhadas e das vozes começa a ser gradualmente e enfastiosamente ensurdecedor.
Um sorrisso bonito e uns olhos castanhos brilhantes interpelam-me:
"Esta exposição da filigrana é uma tremenda merda não acha?"
"Acho..." respondo eu com um sorrisso tímido.
"Vá... Vamos comer um gelado... Eu pago!"
Está calor e o meu cérebro encontra-se dormente de tantas viagens.
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