Dois espectadores. Eu através do vidro da janela do 2º andar e um velho sentado nas escadas.
O miúdo agarrava a bola de futebol com uma mão e a coleira do Nico com a outra.
O Nico estava inquieto. Não queria descer a escadaria.
O miúdo teimava em arrastar o Nico à força, mas em vão... Com uma destreza confiante, o Nico consegue soltar-se da coleira e afasta-se rapidamente do miúdo a meio metro fintando-o com um olhar desafiador.
O miúdo tenta não fazer movimentos bruscos (pois sabe que o Nico fugiria mais rápido) e chama por ele calmamente. Mas quando se tenta aproximar, o Nico consegue sempre desviar-se enquanto solta ladrares [ladrares é bonito...] e mostra os dentes.
O miúdo começa a ficar nervoso e larga a bola. A bola rola um metro e ali fica. O miúdo começa a ter medo porque a estrada é já ali.
O Nico começa a entusiasmar-se com aquela estranha liberdade. O miúdo começa a gritar pelo Nico e por pouco já lhe saiam lágrimas de desespero.
Passa um homem. O Nico vai ter com ele (sempre a correr e a saltar). O miúdo pede ajuda ao homem. A coleira está no chão e o homem vai buscá-la. O miúdo consegue agarrar o Nico. O homem tenta por a coleira no Nico [imaginar a luta] e consegue.
O Nico aprendeu o truque da primeira vez, e consegue libertar-se da coleira de novo.
O miúdo está desesperado. O homem fala qualquer coisa.
O miúdo pega então no Nico ao colo - enquanto este se vai debatendo - e na sua bola. O homem coloca a coleira do Nico no pescoço do miúdo, pois este não tinha as mãos livres.
O velho sorri e continua a olhar para a rua. Desaparecendo do alcance do meu olhar, continuei a focar o vazio no meio da estrada, dos prédios e das árvores secas.
Há que comprar outra coleira para o Nico.
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