A 16 de Dezembro de 2005 escrevia-se assim:
Mas hoje, mais que tudo, há vontade de escrever isto:É deprimente escrever sobre coisas ou pessoas das quais se tem saudades ou se sente falta. Por essa razão, não vou escrever este post
saudade
de ouvir as chaves a entrarem na porta de casa e do assobio a avisar que tinha chegado.
de o ver a ouvir ou ver algum concerto com gosto (e de sempre me dizer "ouve lá esta música!" e eu dizer "opah não quero.. Não gosto!" e ele sempre respondia: "aí que jagunça!! Ouve lá!!").
de comer uma refeição com ele e sermos sempre os últimos a acabar por partilharmos do mesmo "mal" - não conseguir comer e conversar ao mesmo tempo.
de o ouvir cantar a música "clássica" com um bebé ao colo (o meu irmão, as minhas sobrinhas e de certeza que a minha não seria excepção).
de o ver a limpar o aquário de água quente com tanto cuidado.
de o ouvir a cantar as músicas da praxe à guitarra (yesterday, house of the rising sun, you've got a friend, entre outras).
De o ouvir a inventar musicas no meu roland E-32 (oferecido por ele).
de quando planeávamos viajar a Goa.
dos carolos e dos beliscões (hoje entendo que era a sua maneira de mostrar afecto).
de o ver jogar durante largas horas ao pinball fantasies sem perder.
de ir com ele para o trabalho.
de andar com ele de carro e reparar sempre no mesmo tique: puxava a camisa para a frente na parte do ombro num jeito muito seu.
de conversar. Claro, de conversar... dos conselhos, da partilha das histórias da sua vida, dos episódios do dia-a-dia.
De algo tão simples como vermos um filme juntos ou uma série ou qualquer coisa na tv. havia sempre qualquer coisa para gozar (principalmente com os filmes do steven seagal - ainda hoje quando o vejo à porrada só me dá vontade de rir).
de o ver a fazer os trabalhos do Samuel com mais interesse que o próprio!
De comer codornizes fritas preparadas por ele.
de o ver a ver um jogo do Benfica e "gritar" golo como só ele conseguia: sussurava um simples "golo!"
De o apanhar por acaso na estação de campolide na hora de regresso a casa.
De o ouvir a cantar em karaokes e de nunca se ajeitar a seguir a letra pelo vídeo.
Simplesmente a saudade.
De olhar para os seus olhos,
retribuir o seu sorriso
e ouvir a sua voz.